Jean Grey é uma entre os sete mutantes originais apresentados nos X-Men, uma jovem com tremendas habilidades mentais, os seus poderes são telepatia e telecinesia.

Jean Grey é muito diferente da personagem Tempestade criada na década de 1970, mais de uma década depois de Jean. Ambas representam as novas atitudes em relação à mulher na sociedade estadunidense. Como vimos, a personagem Tempestade é esperta, autoconfiante e altamente habilidosa e operam sem a menos necessidade de um amor romântico. Em contrates vimos Jean Grey, que é retrata nas HQs como alguém confiável, leal e inteligente, sem grande autoconfiança e dependente dos homens à sua volta; ela vive na sombra do Grande Professor Xavier. Ela é atraente e faz parte de um triangulo amoroso com seus colegas de X-men Scott Summer e Logan (Ciclope e Wolverine). Jean Grey funciona como o foco de uma contínua matriz heterossexual, promovendo o relacionamento tradicional homem-mulher às platéias.

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A personagem de Jean Grey está destinada a um passo gigantesco no processo de evolução. Para os assíduos leitores das HQs dos X-men, Jean Grey é o sinônimo da Fênix, um ser cósmico que assume a identidade de Jean após ela ser exposta a altos níveis de radiação solar durante uma missão de salvamento.

Desde a sua chegada ao Instituto Xavier, Jean teve de lutar pela vida. Possuída por uma entidade cósmica (a Fênix), ou traída por seu único amor Scott Summer, codinome Cliclope com Emma Frost, a Rainha Branca. Desde sua estréia, Jean Grey tem lutado e se sacrificado, ad infitum, em inúmeros futuros, dimensões e linhas de tempo. Sua existência parece ser infinita por que seus poderes mutantes lhe permitem invocar e se fundir com a força cósmica da vida e da morte. Jean teve mais ressurreição que qualquer outro personagem dos X-men, o que significa que ela também morreu mais que qualquer outro mutante na série. Entretanto, sua existência pertence a alguém que se recria a si mesma permanentemente a partir das cinzas do passado, alguém que personifica o ideal existencialista a um grau sem precedente, uma vez que, por meio de suas escolhas, ela redefine repetidamente o significado de sua existência, remodelando o X-verso em que vive.

Jean Grey representa bem o ser mitológico dos assírios, a Fênix. Segundo Bulfinch, a maior parte dos seres nasce de outros indivíduos, mas há uma certa espécie que se reproduz sozinha a Fênix. Faz um ninho de ramos, nele ajunta cinamomo, nardo e mirra, e com essas essências constrói uma pira sobre a qual se coloca, e morre. Do corpo da ave surge uma nova Fênix, destinada a viver tanto quanto a sua antecessora.

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Na trilogia dos filmes dos X-men, Jean Grey exibe os três principais níveis da ética de justiça de Kohlberg. Ela passa pelo nível pré-convencional sendo orientada por aqueles que têm autoridade. Parece tímida e submissa, com uma voz suave, explicando o fracasso a Xavier ou desculpando-se por não poder realizar certas tarefas porque não é muito poderosa (X-men: O Filme, 2000). Para Alves, a mística do “eterno feminino”, ou seja, a crença na inferioridade “natural” da mulher, calcada em fatores biológicos. Questiona assim a ideia de que homens e mulheres estariam predeterminados, por sua própria natureza, a cumprir papéis opostos na sociedade: ao homem, o mundo externo; a mulher, por sua função procriadora, ao mundo interno.

Ela também exibe em muitas ocasiões o nível convencional de desenvolvimento moral, quando age para agradar aos outros de acordo com suas expectativas. Por fim, quando no final do segundo filme (X-men 2003), Jean sacrifica sua vida para salvar seus colegas, poder-se-ia dizer que ela atingiu o estágio final, pós-convencional da ética de Kohlberg. Nesse ato, ela rejeita os desejos e apelos dos outros e age por conta própria para preservar o bem comum, independente de seus vínculos e relacionamentos emocionais. Ela pode ser vista em seu supremo ato de auto-sacrifício como a utilitarista quintessencial, calculando o melhor interesse do maior número de pessoas envolvidas e, em um ato fria racionalidade, escolhe a ação, ainda que isso signifique a morte.

Mas, essa é a Jean Grey que conhecemos? Ou ela estaria agindo segundo a mais profunda forma de cuidado?

Quando Jean Grey se sacrifica para salvar seus colegas de time (os X-men), ela segue uma interpretação comum da ética do cuidado de Gilligan, que insiste para que as mulheres se considerem tão merecedoras quanto os homens. Muitas analistas feministas sugerem que a ética do cuidado, interpreta de modo correto, exclui qualquer tipo de sacrifício pelos outros. Elas recomendam, no entanto, o equilíbrio entre um interesse saudável da mulher por si mesma e o interesse apropriado pelo bem-estar dos outros.

A ética da justiça é centrada em regras e direitos. Já a ética do cuidado enfoca os relacionamentos e o cuidado com as pessoas. Quando Jean enfrenta uma situação na qual a vida de todos os seus amigos mais próximos só pode ser salva pelo sacrifício de sua vida, ela não é confrontada por pessoas que tem o tipo de direito à vida que exige o ato final dela como um dever moral, a serviço da justiça. É justamente porque ela vai além do chamado dever que seu ato é heróico. Ela não age por dever, mas sim, por amor, cuidado e interesse, sabendo que só com seu sacrifício pode salvar a vida dos X-men. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida, por seus amigos”. (Evangelho de São João (15,13).1989).

Agindo assim, ela se torna uma espécie de figura de cristo feminina e sua morte parece pressagiar uma ressurreição, algo que será apresentado no terceiro filme da serie X-men (X-men 3: O confronto final. 2006).

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Jean Grey prova que este não é privilégio só dos homens. E, ao fazer isso, ela talvez esteja superando a dualidade implícita tanto na ética do cuidado quanto na interpretação feminista dela. Ela não pesa seus direitos em contrastes com os seus colegas, e não questiona de quem vai cuidar melhor; dela mesma ou deles. É possível que ela tenha transcendido por meio da dualidade para uma singularidade ou unidade com os outros, a ponto de elidir a diferença entre auto-sacrifício e auto-preservação. Ela faz o que precisa ser feito pra a preservação da unidade maior.

Jean transcende as demandas e deveres da ética normal, agir além do chamado de dever, isso lhe traz uma surpreendente recompensa, por meio de um renascimento como a extraordinária e poderosa Fênix. Essa pode ser a moderna apresentação mítica do supremo poder transformativo do amor. Jean Grey morre, mas renasce de suas cinzas, como a poderosa Fênix, uma poderosa mulher.