Por Cleiton Kerber
A luta dos negros contra os movimentos separação racial e o racismo na America começou desde que foi abolido por completo a escravidão no continente. Uma das principais reações dos negros para garantir os seus direitos, foi a criação de movimentos de libertação. O primeiro movimento negro de libertação nasceu em solos jamaicanos e se tornou o maior movimento de massa dos negros norte americanos em 1919, o Back to Africa [De volta para a África], tendo como líder Marcus Mosiah Garvey.
O aspecto mais importante desse movimento visava o fortalecimento da autoconsciência dos negros pobres pela relembrança de sua pátria africana. Marcus Garvey se perguntava constantemente onde estava o governo do homem negro? Onde está o sei rei e o seu reino? Ele acreditava que os negros estavam deslocados de sua terra, não formavam uma nação, e por esse motivo eram oprimidos e explorados pelos homens brancos.
Garvey acreditava que todos os negros deveriam voltar para a África, seu continente de origem, e esse continente deviria ser livre das mãos opressoras do homem branco. A Etiópia era o país africano exemplo, pois estava livre do colonialismo europeu que dominava as demais nações do continente, e em 1930 ganhou o seu primeiro rei negro Ras Tafari Makonen. Isso fez o movimento Back To Africa ganhar ainda mais força, fazendo surgir então um movimento religioso na Jamaica denominado Rastafari, o qual tinha como utopia o cumprimento da mensagem de Marcus Garvey.
O rastafarianismos, que mais tarde originou e serviu como base para a Black Theology [teologia da libertação negra norte-americana], tinha como Deus JAH, que era a união de crenças do Deus do Antigo Testamento IHVH e o Deus Jah dos Maroons. Os negros americanos acreditavam que assim como o antigo povo de Israel no século V a.C. encontrava-se em exílio na Babilônia, os negros encontravam-se agora em exílio na América, mas o Deus JAH havia garantido um líder para libertar os negros, que possuía o nome de Marcus Garvey, e uma terra para eles habitar enquanto se encontravam em exílio, a Jamaica: “Jah-maica” é o que foi feito por JAH aqui.
O sonho de Marcus Garvey e do seu movimento Back To Africa e a crença do Rastafari, foi desfeita em 1936, quando a Etiópia foi invadida por Mussolini e o sei rei teve que se exilar em terras Inglesas. Todos os sonhos de formar uma nação livre da dominação do homem branco, de viver como negro em sua terra acabou.
Em meio à cultura pop, a ideia de uma ação africana rica, com o seu líder negro e livre da dominação branca, foi representada nas histórias em quadrinhos e no cinema pela Marvel. A Wakanda um país fictício criado por Stan Lee e Jack Kirby, é a nação do super-herói Pantera Negra. O país é um dos mais ricos e poderosos do Universo Marvel devido a sua grande reserva de Vibranium.
A Wakanda possui seu próprio rei, o pai do Pantera Negra, que morreu no atentado terrorista mostrado no filme Guerra Civil. É um país livre da dominação colonialista europeia, suas riquezas naturais não foram exploradas pelos europeus, por esse motivo constitui uma nação forte e rica. O Pantera Negra é o guerreiro que protege a nação, é um título herdado, antes que T’Challa o possui-se, ele pertencia a seu pai T’Chaka que nos quadrinhos veio a ser assassinado pelas mãos de Ulisses Klaw.
A grande questão relacionada à Wakanda, levantada pelo Universo Marvel sobre o continente Africano é: como um continente tão rico em minério e em riquezas naturais, é ao mesmo tempo tão pobre? A representação Wakanda é o contraponto que mostra a influência da exploração que o colonialismo europeu teve sobre os países africanos até o final do século XX, e a miséria com que eles deixaram a população de todo o continente.
O sonho que Marcus Garvey idealizava de uma África para os africanos, de uma Etiópia, uma nação livre da influência dos brancos que oprimem os negros, está representada em meio à cultura pop pelo nome de Wakanda. Um país e uma nação que consegue andar com as próprias pernas, que decide o seu futuro, e vive com aquilo que brota, nasce e tem em sua terra.
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